O documentário Isabella: O caso Nardoni, que irá relembrar o crime que chocou o País, estreia nesta quinta-feira, 17, com depoimentos importantes de Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella Nardoni. A entrevista de Ana, porém, poderia não estar na produção. Ela chegou a recusar a participação, mas voltou atrás por pensar que casos como este “não devem ser esquecidos”.
“Vi uma oportunidade de contar essa história para que a minha filha não fosse nunca esquecida, apesar de que, por mim, ela nunca será”, afirmou, em entrevista ao UOL, nesta quinta-feira, 15. Ana relatou que o principal motivo de ter relutado em participar foram os dois filhos: Miguel, de 7 anos, e Maria Fernanda, de 3.
“Liguei para o Claudio [Claudio Manoel, codiretor do documentário] falando que achava que era muito delicado, que isso ia mexer com feridas, porque hoje isso envolve meus filhos”, disse. “Tenho um filho de 7 anos que sabe que tem uma irmã mais velha, mas não sabe a realidade dos fatos.”
Ana contou sobre como lidou com o luto ao longo de 15 anos e ressaltou que “a dor é branda, mas existe”. “A justiça foi feita, um ciclo se encerrou para mim, mas hoje fico com o meu sofrimento, a minha dor”, comentou.
Conforme o relato, ela disse que poder se casar, ter filhos e reconstruir sua vida foi “encerrar um ciclo e recomeçar outro”. “Eu sempre sonhei em ser mãe de novo. [...] Foi um conjunto de coisas que foram se reconstruindo”, afirmou.
Ana ainda comentou achar injusta a progressão da pena de Anna Carolina Jatobá, condenada a 26 anos e oito meses pelo assassinato de Isabella, para o regime aberto. A madrasta foi solta em junho para trabalhar durante o dia e dormir na Casa do Albergado [estabelecimento destinado ao cumprimento do regime aberto].
“Não acho justo ela estar voltando para casa. Daqui a pouco, pode ser ele [Alexandre Nardoni]. A minha filha nunca vai voltar para casa. Repito: a minha filha nunca vai voltar. [...] Acho que, se a minha filha não volta para casa, eles também não têm que voltar”, ressaltou a mãe de Isabella Nardoni.
Relembre o caso Isabella Nardoni
Isabella Nardoni morreu com apenas 5 anos após cair do sexto andar de um prédio em São Paulo em março de 2008. A versão inicial apresentada pelo pai, Alexandre Nardoni, e pela madrasta, Anna Carolina Jatobá, que estavam no local no momento do ocorrido, foi a de que a menina havia caído por acidente ou, ainda, que havia sido vítima de um suposto ladrão que teria invadido o apartamento.
Em 2010, os dois foram considerados culpados por júri popular. Conforme as investigações, depois de uma discussão, Anna Carolina teria asfixiado a enteada e Alexandre teria jogado a filha, ainda com vida, da janela do prédio.
O pai cumpre a pena na penitenciária Dr. José Augusto César Salgado, a P2, na cidade de Tremembé, interior de São Paulo. Ele foi condenado a 31 anos e um mês de prisão.
A madrasta também cumpria pena na cidade de Tremembé, mas na Penitenciária Feminina I. No final de maio, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) pediu para que a Justiça de São Paulo analisasse o pedido de progressão para o regime aberto, que foi concedido.
Em 2012, Anna Carolina chegou a conseguir migrar para o regime semiaberto, mas perdeu o direito após ter sido flagrada conversando com os filhos por meio de uma videochamada feita pelo celular de um de seus advogados. A prática é proibida em prisões.
Por Estadão *Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais