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Após colecionar prêmios, Vitor Rocha se posiciona como defensor do musical brasileiro

Por Humberto Tozze | GQ Cultura 
 

Um monólogo em cartaz, um texto infantil que recentemente fez temporada em São Paulo (Petshop, o Musicão), e a direção de um espetáculo que retrata o amor entre dois homens (Todo Chapéu Me Lembra de Você) refletem o momento que Vitor Rocha, artista de 26 anos, está vivendo.

O trabalho do ator e dramaturgo vem sendo reconhecido há alguns anos. Em 2018, por exemplo, foi eleito na categoria Revelação da 6a. edição dos Prêmios Bibi Ferreira, dedicados ao teatro. No ano seguinte, seu nome esteve na seleção Forbes Under 30, que celebra talentos jovens em áreas variadas.

Até o próximo fim de semana, o público em São Paulo pode conferir o monólogo musical Donatello, em cartaz no Teatro Commune. A peça aborda a relação entre um neto e seu avô, paciente de Alzheimer em fase inicial que mostra sinais de esquecimento. Por ter esquecido o nome do neto, ele passa a chamá-lo de Amendoim, que é seu sabor favorito de sorvete. Para ajudar o avô, o jovem decide usar o nome de alguns sabores da sobremesa para resgatar memórias.

Vitor, dono de um sorriso amoroso e jeito quase tímido, começou sua incursão no teatro musical ainda na escola, incentivado por professores apaixonados pelo ofício. “Hoje, defendo bastante o teatro na escola. Acho que se não fosse essa professora específica me jogando para isso, eu nem teria descoberto isso em mim”, conta o dramaturgo.

Nascido em Pouso Alegre, Minas Gerais, e criado em Jacutinga, uma cidade pequena que ele brinca ser digna de uma novela das seis, Vitor se apaixonou pela arte cênica, mas encontrou poucas atividades culturais disponíveis. Entre os 17 e 18 anos, se mudou para São Paulo para estudar teatro em Campinas, ainda sem muitos planos ou expectativas.

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Se dedicou então a estudar dublagem, interpretação para cinema, musical, e participou de oficinas livres de companhias que admirava, como o Núcleo Experimental e a Companhia da Revista. “Fiz de tudo, até palhaçaria, para entender qual era o meu lugar”, diz.

O primeiro espetáculo que criou, Cargas D'água - Um Musical de Bolso, veio dessa necessidade de ser conhecido - após sucesso inicial em 2018, a peça ganhou montagens em Londres e Nova York. “Quando cheguei em São Paulo, pensei: ‘Meu Deus, não conheço ninguém, ninguém me conhece. Se eu não fizer e não convidar as pessoas para assistirem, como elas vão me conhecer?’”

Produzir suas próprias peças foi a maneira que encontrou para criar oportunidades em um meio altamente disputado e, por vezes, injusto. “Quando olho de fora, penso que não foi necessariamente coragem de escrever minha própria peça ou criar minha própria oportunidade. Acho que foi quase uma inocência de fazer aquilo que eu gostava, com a esperança de que fosse dar certo. Nada foi tão planejado.”

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"Petshop, o Musicão", de Vitor Rocha — Foto: Divulgação

No ano passado, Vitor escreveu e dirigiu o maior musical brasileiro ao ar livre, Mundaréu de Mim. A peça, voltada para o público infantojuvenil, aborda temas como carnaval, romance e, acima de tudo, o luto. A história se passa durante o carnaval e a quarta-feira de cinzas, quando as pessoas que “viraram saudades” têm a chance de retornar e caminhar entre os vivos, disfarçadas pelas fantasias.

Mundaréu de Mim foi indicado como Melhor Espetáculo pelo Prêmio APCA e lotou as apresentações no Parque da Água Branca. Nesse período, Vitor também perdeu o pai. “Passei um ano inteiro falando sobre pessoas que se tornam saudade e finalizei o processo entendendo o luto. Então pensei: ‘Cara, realmente, cada espetáculo é um pedacinho da minha vida e é sempre um passo à frente, lidando com um novo tema que vai surgindo.’”

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Carmo Dalla Vecchia, em "Todo Chapéu Me Lembra de Você"; Texto e direção de Vitor Rocha — Foto: Caio Gallucci

Vitor se tornou um defensor dos musicais originais brasileiros. “O mais legal do teatro musical original não é apenas o protagonismo que damos às nossas pessoas, mas também o emprego que geramos para uma classe muitas vezes apagada nas montagens. Às vezes, pagamos US$ 100 mil de direitos autorais para um estrangeiro que nem conhece o Brasil, enquanto um roteirista local não recebe nada. Sempre que penso no teatro original, lembro que não é só minha ideia; envolve o compositor, o arranjador, os músicos. É uma cadeia maravilhosa que se movimenta graças à ideia de alguém ser original”, ele conclui.

Serviço

Donatello
Até 27/06/2024
Teatro Commune - Rua da Consolação, 1218 - Consolação - São Paulo
Quartas e Quintas, às 20:30h
Duração: 90min
Gênero: Musical
Classificação: Livre

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