Um projeto do Porto Seco, em Varginha (MG), em parceria com o Terminal Portuário de Angra dos Reis (RJ), busca fazer o transporte de café da cidade mineira ao município do Rio de Janeiro por trem. Os containers são levados, atualmente, por caminhão a Santos e a mudança pode aumentar o número de produto transportado. A expectativa de empresa é de que em dois anos o novo sistema esteja funcionando.
Para viabilizar o projeto, os investimentos são de cerca de R$ 20 bilhões. O novo corredor logístico tem, ao todo, 516 quilômetros de linha férrea. Para funcionar, depende da reativação dos trechos ferroviários Varginha-Três Corações-Lavras e Barra Mansa-Rio Claro-Angra. Ambos estão inoperantes, respectivamente, desde 2010 e 2009.
O início das operações depende da reforma da linha férrea. A VLI, empresa que controla as concessionárias de transporte ferroviário de cargas Ferrovia Centro-Atlântica S.A, tinha o plano de devolver o trecho para o governo federal. No entanto, após a apresentação de estudos, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) deu prazo de 30 meses para que a reforma seja feita.
Atualmente, após o acordo, restam 25 meses para que a manutenção seja feita. O assessor de Relações Institucionais e Inovação do Porto Seco, Igor Candido de Oliveira, diz acreditar que, em dois anos, o transporte já esteja sendo feito no trecho.
“A gente é otimista, acreditamos que em dois anos estaremos operando. Não estamos esperando a ferrovia para operar. Fizemos um teste na ferrovia. Pegamos 10 containers de café, embarcamos em Lavras, passando a carga do caminhão para o trem. A VLI transportou até Volta Redonda, fez o transbordo e [foram levados pela MRS] até o porto do Rio de Janeiro. Isso já mostrou que é possível e a redução de custos, além de segurança da carga”, falou.
Atualmente as cargas são levadas ao porto de Santos em caminhões. A operação é feita com custos mais altos e elevado número de acidentes. A mudança pode fazer com que de dois containers por viagem de caminhão se transformem em até 160 de uma vez por trem.
“Cada bitrem [caminhão] carrega no máximo dois containers carregados. No trem, a gente consegue colocar até dois containers de até 20 pés por vagão ou um de 40 pés. Essas são composições de até 80 vagões, ou seja poderíamos levar até 160 containers”, explicou Otávio Paravizo Bregalda, do setor de Qualidade e Inovação do Porto Seco.
“Hoje o custo é de R$ 3,8 mil para ir ao porto de Santos e a gente acredita que indo cheio e voltando cheio, chega a até R$ 1,5 mil para Angra dos Reis. Atualmente, o caminhão vai pela Fernão Dias para Santos e as preocupações são o custo de combustível, o número de acidentes e a questão de greve e o porto de Santos completamente sobrecarregado”, completou Igor.
Leandro Cariello, sócio-proprietário do Terminal Portuário de Angra dos Reis, destaca que investimento nessa parceria tem a intenção de fazer do porto uma referência para as exportações mineiras.
"Exportar essa produção do Sul de Minas direto para o porto para Angra do Reis, via ferrovia, é muito mais barato, mais eficiente e muito mais benéfico para o meio ambiente. Eu gostaria que o porto de Angra fosse o porto de Minas Gerais. A saída para o mar de Minas Gerais vai ser o porto de Angra dos Reis, que está disponível para os produtores rurais para exportar seus produtos e também importar insumos, porque o agronegócio também importa fertilizantes, maquinários e diversos insumos, que hoje enfrentam estradas congestionadas, pedágios caros e filas nos portos habituais. A gente quer tirar tudo isso da importação pra Varginha", afirmou.
Transporte de passageiros
A modernização da linha férrea vai possibilitar também que seja feita viagens de passageiros pelo trecho Varginha/Angra dos Reis. O projeto elaborado pelo Porto Seco defende a ideia.
“Com a linha pronta, na melhor das hipóteses teríamos de seis a oito composições diárias entre idas e vindas. Distribuídos os horários, é completamente possível colocar no meio da programação um trem de passageiros. É irracional não aproveitar a estrutura”, defendeu o assessor de Relações Institucionais e Inovação do Porto Seco.
Empecilho
Para o início das operações, com a linha reformada, um dos empecilhos é a necessidade de um capital de risco alto, previsto em cerca de R$ 200 milhões para a empresa interessada em administrar a operação da ferrovia.
“Há uma barreira de entrada. É preciso de um investimento inicial alto. No setor rodoviário é simples, um caminhão e já está em operação. No ferroviário, não dá para comprar um vagão, uma locomotiva e operar. É preciso que uma empresa faça um grande investimento. A mesma empresa precisa ficar com operação, locomotiva, transporte. Em outros países cada empresa pode fazer uma função. Mas aqui, existe essa questão. Temos a disposição de fazer a operação, porque não precisamos comprar o material para fazer quatro composições. Podemos começar com um material”, frisou Igor.
Para saber se vale a pena o investimento, Guilherme Vivaldi, coordenador do Grupo de Estudos Econômico do Sul de Minas, foi contratado e um estudo foi feito. Segundo ele, de 155 cidades do Sul de Minas, só 12 não produzem café. Do total, 50 exportam a bebida.
"Utilizar o modal ferroviário pode reduzir até 40% do custo de frete para transportar o café e buscar o adubo nos portos. Então hoje a gente tem uma grande importação de adubos para utilizar nos cafés do Sul de Minas, ao mesmo tempo que exportamos café para o exterior. Se a gente usa o trem levando o café e buscando, a gente chega ter até 40%, além de todos os benefícios voltados para a área de mobilidade urbana, reduzindo o número de caminhões, acidentes na estrada e poluição, porque os trens atualmente são ecologicamente corretos", explicou.
Fonte: G1 Sul de Minas