De acordo com os dispositivos que regem a conduta política da Coroa com relação ao Parlamento, o/a monarca tem o direito de dissolver o governo, de declarar guerra, de licenciar o exército, vender todos os navios da marinha, dissolver a função pública, ceder territórios a uma potência estrangeira, conceder um título nobiliárquico a qualquer pessoa, declarar estado de emergência, perdoar infratores ou fundar universidades.
Mas, por questão de cautela, Elizabeth não usava a maioria desses poderes (nem 10% deles). Ela reinava, mas não governava. A rainha também era chefe de duas Igrejas: a Igreja Anglicana, que é episcopal, e a Igreja da Escócia, que é presbiteriana.
Como monarca, sua função era aceitar sem reservas os conselhos dos Primeiros-Ministros e jamais se envolver em política partidária. Caso contrário, ela estaria colocando toda a instituição em perigo.
A rainha, por exemplo, não compartilhava suas malas diplomáticas com o príncipe Philip e tampouco permitia que o marido tomasse participação nas suas reuniões com os Premiês. Seu trabalho consistia em ser consultada, aconselhar e advertir. Definição essa que foi estipulada pelo jornalista Walter Bagehot no século XIX, quando a trisavó de Elizabeth, a rainha Vitória, reinava. Mas, entre uma e outra, existem diferenças consideráveis. Enquanto Vitória era mais assertiva, sua sucessora sempre deu preferência a uma abordagem mais cautelosa. Suas aparições tinham o poder de fortalecer as conexões emocionais entre a Coroa e os súditos.
Por ser um rosto internacionalmente conhecido, a rainha era o maior trunfo diplomático do governo inglês. Em muitas ocasiões, a monarca e os rituais da monarquia foram usados pelo governo para maquiar uma situação instável. Não era Elizabeth quem escolhia os destinos de suas viagens pelo mundo, mas muitos acordos diplomáticos já foram firmados graças à sua presença, a exemplo dos tratados com os Emirados Árabes. Nas últimas décadas de sua vida, ela servia de guia para Premiês mais jovens, graças à sua experiência em 70 anos de reinado.
Texto: @renatotapioca