O Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Secretaria Nacional do Consumidor, determinou que plataformas de streaming retirem do ar, em até cinco dias, o filme "Como se tornar o pior aluno da escola", do humorista Danilo Gentili.
A determinação foi publicada em despacho publicado no Diário Oficial da União (DOU) desta terça-feira (15). De acordo com a ordem, as plataformas serão multadas em R$ 50 mil por dia caso continuem exibindo o filme.
O documento é assinado pela diretora do Departamento de Proteção e de Defesa do Consumidor, Lilian Brandão, e foi destacado pelo ministro Anderson Torres em suas redes sociais. A decisão se dá após acusação de que a produção, que estreou há cinco anos nos cinemas, "promover a pedofilia". Na época em que o filme estava em cartaz nos cinemas, quando Danilo Gentili era defensor do governo, parlamentares bolsonaristas elogiavam a produção. O deputado federal Marco Feliciano (SP), por exemplo, havia dito, na época, que "há tempos não ria tanto". Agora, Feliciano apagou a postagem e disse que deve ter saído do cinema para atender o telefone pois não se lembra da cena em discussão agora.
O despacho do Ministério da Justiça cita as plataformas Netlix, Globoplay, Telecine, Youtube, Appel e Amazon. O filme de Danilo Gentili, lançado em 2017, estreou recentemente no catálogo da Netflix. A Globoplay e o Telecine já avisaram que não vão cumprir a decisão, que consideram censura.
A polêmica em torno do filme se deu após o secretário especial de Cultura, Mario Frias, publicar em suas redes um trecho do filme em que o personagem interpretado por Fábio Porchat instiga dois garotos menores de idade a pararem de discutir e pede que o masturbem. As crianças reagem com surpresa, negando o pedido. Para Mario Frias, a cena incentiva a pedofilia. Contudo, obra segue normas do governo Bolsonaro. Nos dois guias publicados pelo Ministério da Justiça já no governo Bolsonaro, em 2018 e também na versão atualizada de 2021, usados como referência pela indústria audiovisual, conteúdos em que há a indução ou atração de alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual não são recomendados para menores de 14 anos.
Porchat, por sua vez, defendeu-se enfatizando que um ator nem sempre interpreta o mocinho em um filme e que vilões, geralmente, fazem coisas horríveis.
"Vamos lá: como funciona um filme de ficção? Alguém escreve um roteiro e pessoas são contratadas para atuarem nesse filme. Geralmente o filme tem o mocinho e o vilão. O vilão é um personagem mau. Que faz coisas horríveis. O vilão pode ser um nazista, um racista, um pedófilo, um agressor, pode matar e torturar pessoas", afirmou Porchat por meio da assessoria.
Danilo Gentili, por sua vez, ironizou as reclamações de grupos ligados ao governo. "O maior orgulho que tenho na minha carreira é que consegui desagradar com a mesma intensidade tanto petista quanto bolsonarista. Os chiliques, o falso moralismo e o patrulhamento: veio forte contra mim dos dois lados. Nenhum comediante desagradou tanto quanto eu. Sigo rindo", disse, em suas redes sociais.
Fonte: O Tempo