Historeando | Pérola Juliana Luna
O presidente russo Vladimir Putin foi espião da KGB, aos 23 anos, em 1975, o serviço secreto da União Soviética, chegando à patente de tenente-coronel. Ele se aposentaria das atividades militares para ingressar na política, em sua cidade, São Petersburgo, em 1991, ano em que a União Soviética foi dissolvida. Ele é um ex-advogado que nasceu em São Petersburgo em 7 de outubro de 1952. Na época do seu nascimento a cidade chamava-se Leningrado em homenagem ao dirigente comunista Lenin.
KGB é a sigla em russo para Comitê de Segurança do Estado, o serviço secreto da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Órgão ligado ao Partido Comunista, a KGB foi criada em 1954, sendo um dos mais temidos e eficientes serviços secretos do mundo.
Ainda na infância, Putin deu início a seus estudos em uma escola de sua cidade. Nesse período, ele estudou alemão, idioma que fala fluentemente, e também praticou judô e sambo, arte marcial criada na união soviética no começo do século XX.
A relação de Putin com o comunismo é turbulenta. Em 1999, ele afirmou, segundo a revista The New Yorker, que a ideologia comunista era "um beco sem saída" e "distante da maioria da população". Dezessete anos depois, em 2016, ele chamou o comunismo e o socialismo de "belos ideais" e os comparou ao cristianismo. Fato é que a Rússia não é mais um regime comunista já há 30 anos. A Rússia passou por um processo distinto, como explica a socióloga e pesquisadora russa Svetlana Ruseishvili. “A Rússia sempre foi um país imperialista que conquistava os territórios historicamente povoados por povos de outras origens culturais e religiosas”, afirma. O que gerou, segundo ela, repúblicas autônomas que são unidades administrativas com seus próprios direitos e constituição dentro do território. Em geral, na Rússia, não há muita empenho quando se trata de se livrar do passado comunista. Por exemplo, ainda existem mais de 5.400 estátuas de Lênin no país. Entretanto, especialistas políticos, historiadores e muitos cidadãos comuns têm a certeza de que, independentemente de quão nostálgicos seus compatriotas sejam sobre a URSS, é muito improvável que as ideias comunistas prevaleçam.
Vladimir Vladimirovitch Putin, de 69 anos, está há mais de 20 no poder e se tornou presidente da Rússia em 2000, após a renúncia de Boris Yeltsin. Um plebiscito realizado na Rússia em 2020 aprovou uma mudança constitucional que permite a Putin se candidatar às próximas eleições presidenciais, em 2024, mesmo já estando no segundo mandato consecutivo. Com isso, se disputar mais duas eleições, ele pode seguir no cargo até 2036.
A invasão da Ucrânia pelas tropas russas está inserida em um contexto geopolítico mais amplo. Vladimir Putin historicamente estimula e promove grupos pró-Rússia em países que compunham a antiga União Soviética. Seu principal movimento nesse sentido foi a anexação da Crimeia, um dos principais movimentos militares do governo Putin, ocorrido em 2014. Naquele momento em diante, o presidente da Rússia mostrou-se capaz de se organizar para sobreviver às sanções econômicas e continuou pressionando a Ucrânia e outros países do leste europeu a se manterem sob a sua esfera de influência.
Com o ataque à Ucrânia, quatro países acionaram o artigo 4º da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), quando os países que compõem essa articulação militar informam temer pela própria segurança territorial. Polônia, Estônia, Letônia e Lituânia temem que Putin avance sobre eles após concluída a ação militar na Ucrânia, visando reconstituir o antigo território soviético.
A Rússia está de volta ao jogo da geopolítica. O país da Europa oriental tem se portado cada vez mais como herdeiro soviético e, apesar de a Guerra Fria ter acabado há mais de 20 anos, novos embates com o Ocidente se delineiam no mapa. Para resgatar seu título de superpotência, o país tem feito questão de provar sua influência no tabuleiro, marcando presença nos assuntos que vão da Síria aos Estados Unidos. O mestre nesse xadrez imperialista? Vladimir Putin.
No poder desde 2000, o presidente russo representa, para grande parte da população de seu país, aquele que estabilizou a Rússia após a queda da URSS na década de 90 e que não se curva aos interesses ocidentais.
“Ele não é um grande orador, não é um líder carismático, mas chega até o russo médio porque passa credibilidade. Ele representa o que muitos acreditam ser um poder necessário para resgatar a autoridade russa que foi perdida”, diz o historiador Sidney Ferreira Leite, especialista em Relações Internacionais e pró-reitor do Centro Universitário Belas-Artes.
Filho de uma operária e de um soldado da marinha que lutou na Segunda Guerra, o homem mais poderoso da Rússia cresceu num subúrbio de São Petersburgo, segunda maior cidade do país — chamada de Leningrado até 1991, herança da Revolução Russa que instaurou o comunismo em 1917. Nascido em 1952, foi criado como filho único, uma vez que os irmãos morreram ainda crianças. “Não posso dizer que éramos uma família muito emocional. Não conversávamos muito”, contou ao documentário The World’s Most Powerful President, da rede americana Freedom TV.
Quando Putin assumiu a presidência, implantou algumas reformas, como a desvalorização do rublo russo, para favorecer as exportações. E os preços das commodities voltaram a crescer a partir de 2000. O barril de petróleo, um dos principais produtos russos, passou de 10 dólares para 100, em 2008. Resultado: na era Putin, o PIB subiu cerca de 7% ao ano, a renda e o consumo aumentaram e o número de pessoas abaixo da linha da pobreza caiu de 30% em 2000 para 14% em 2008. “Putin veio logo depois do fundo do poço e recentralizou o Estado”, diz Segrillo. “Muitos gostaram porque acham que ele colocou ordem na casa”. Os líderes centralizadores costumam ser um sucesso na Rússia – uma tradição que se estendeu desde o período dos czares até a Revolução Russa.
Para conseguir manter sua popularidade alta, é fundamental manter a postura bélica. De acordo com a pesquisadora Lilia Shevtsova, o presidente usa “um conflito político atrás do outro” para se “re-energizar” com o eleitorado. E para realçar sua principal força – a militar – para o resto do mundo. O principal território de influência da Rússia, hoje, é a Síria. Aliado de Bashar al-Assad e com atuação relevante do país, Putin conseguiu mostrar que, se o mundo quiser frear a maior crise de refugiados da história e combater o Estado Islâmico, a conversa vai precisar passar por ele. “Se envolver com a Síria foi o jeito do Putin de voltar para a mesa”, diz Valerie Sperling, da Clark University.